terça-feira, 13 de novembro de 2007

Moda convento: hábitos sim ou não?

Por que os religiosos usam hábito? Essa é uma pergunta que muitas vezes nos fazemos. Segundo o professor de religião e ex-seminarista Luis Raphael Tonon o hábito religioso surgiu no século III da era cristã, porém até mesmo antes disso já havia registros de pessoas que, ao se consagrarem a Cristo, passavam a se vestir de maneira diferente. Na verdade a função do hábito é expressar exteriormente a disposição interior de ser de Deus, é um sinal. Para a freira carmelita irmã Tereza o hábito religioso não é uma forma de se esconder o corpo humano, mas sim uma maneira de revelar ao mundo uma vocação diferente. “O hábito não faz o monge, mas ajuda! Ele nos lembra a toda hora nossa razão de viver e de agir. Num mundo tão secularizado como o nosso e tão pobre de sinais, o hábito religioso é marca registrada da entrega a Cristo”, comenta a irmã. Ela ainda completa dizendo que não é o hábito que faz a pessoa, mas uma vida coerente que inspire confiança nas outras pessoas. “Há muitas congregações que não usam hábito, mas nem por isso as pessoas deixam de reconhecê-las como religiosas”, ressalta.

De acordo com Tonon até o Concílio Vaticano II, todas as congregações religiosas eram obrigadas a usar o hábito, depois do Concílio muitas congregações optaram por não usar o hábito, outras realizaram grandes mudanças. As principais mudanças ocorreram nos hábitos femininos: o comprimento das saias, que antes era até o pé, subiu para a altura do joelho, as cores que antes eram mais escuras foi substituídos por cores mais claras como tons pastéis e azuis. Apesar de muitas atualizações alguns hábitos continuam os mesmos como é o caso da Ordem de São Bento (beneditinos, que usam o mesmo design desde o século V, os carmelitas, dominicanos e os franciscanos usam o mesmo desde o século XIII.

Mas o hábito ainda é motivo discussão dentro da igreja, há quem defenda e quem o recrimine, para alguns o uso de hábito “espanta” as novas vocações. “Sou a favor dos padres não usarem hábito, as pessoas ficam analisando, moralizando, esperando um padre fazer algo errado para recriminar”, diz um seminarista da Pequena Missão Para Surdo que não quis se identificar. Para ele, o uso de hábito tira a liberdade da pessoa, pois quando um padre está na rua ele não está servindo o povo por isso não há a necessidade do uso. O seminarista explica ainda que muitos jovens desiste da vocação com medo do hábito.

Outra congregação que não adota o uso de hábito é a das Irmãs Marianistas. Segundo a supervisora delas, irmã Fátima elas não usam porém, têm um uniforme para ocasiões especiais, como missa de votos. “Não usamos hábitos, mas vestimos roupas castas que não tenham decotes, que não sejam curtas, transparentes ou muito apertas”, diz a irmã. Para ela essas cautelas no modo de se vestir é uma questão de respeito com o próprio corpo e a própria castidade. A ex-noviça da congregação Marianista, Iara Fernanda de Souza afirma que essa cautela é um aprendizado para o resto da vida. “Nas irmãs não usávamos hábito, mas aprendi a me vestir bem sem precisar mostrar meu corpo para estar bonita. Descobri que não tenho vocação para a vida religiosa, não vejo problema nenhum no uso do hábito, nem acho que ele espanta as vocações”, completa.

Para Fernanda o que vem fazendo as vocações caírem a sociedade secularizada e a falta comunhão com Deus. Já para Irmã Tereza muitos jovens procuram a vida religiosa porque a sociedade caminha num ritmo de disseminação de valores na qual a vida religiosa apresenta uma posição mais certa. “O ensinamento de Deus nunca muda”, concretiza a irmã.

Renata Andrade

Foto: www.rosario.org.mx

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